Treino com Andy, Sesimbra, Jul-2005

Crónica de uma morte anunciada

Aproveitámos a vinda de um instrutor GUE (Andy Kerslake) a Lisboa, para realizar mergulhos de "treino" Cave-1. Este treino destinava-se principalmente aos candidatos ao curso de Cave 1 que iria decorrer em França, no mês de Agosto. No entanto, como os exercícios são muito semelhantes ao que espera os candidatos ao curso Tech-1, esta sessão foi aproveitada por mais mergulhadores. É importante salientar que no sistema de formação do GUE, espera-se que os candidatos estejam completamente à-vontade com um certo número de técnicas básicas, sobre as quais vão ser construídas técnicas mais avançadas. Os mergulhadores “DIR” praticam regularmente as várias técnicas, através de um programa de treinos frequentes (em piscina, e no mar, e mesmo a seco!). Nestas sessões de treino, os mergulhadores trocam conhecimentos e experiências entre si, ajudando-se mutuamente.

Desta vez tivemos a sorte de poder contar com a presença de um instructor GUE, que permite corrigir atempadamente pequenos erros e incorrecções, e identificar áreas de treino. Foi então assim que fizemos 3 mergulhos de preparação em Sesimbra, depois de uma sessão prática “a seco”. A que se segue, é um relato na 1ª pessoa, sobre esta sessão de treino. Agradecimentos a todos os envolvidos: DeepDive (ToZé, Dinis, Jori), Rui Sousa, Jorge Nunez (JN), Ricardo Constantino (RC) e Pedro Neves (PN). O Rui conseguiu filmar umas sequências de vídeo muito "engraçadas" :)

O “dia” começou na noite anterior, com o planeamento geral da sessão. Aqui o Andy perguntou ao Ricardo e ao Jorge, quais as coisas que eles gostariam de ver abordadas no treino. Após alguma troca de ideias, ficou alinhavado que seria algo sobre colocação de cabos-guia, protocolo de fio, procedimentos de emergência, e mais algumas coisas de que o instrutor se lembrasse durante o treino...

De manhã, o ponto de encontro foi na Deepdive, na Cotovia, entre a 9:00 e as 9:45 (tipo pontualidade britânica ;-) Após uma breve paragem para comprar água (não se esqueçam que é importante estarmos sempre bem hidratados, especialmente nos dias de mais calor), dirigimo-nos a um pinhal próximo para ouvir algumas explicações do Andy, e para “brincarmos” um pouco com os carretos e os fios. O Andy começou por explicar os tipos de amarrações e os cuidados a ter na escolha de cada um (é importante lembrar que o cabo-guia - ou “fio de Ariana”, tem de ficar bem preso à gruta ou ao naufrágio, mas que quanto mais amarrações fizermos, mais tempo demorará a saída - já que o fio tem de ser recolhido durante a saída). Quando colocamos o fio, fazemos uma primeira amarração (“primary tie”) ainda fora do ambiente com tecto (fora da gruta, no exterior do naufrágio, etc.). Esta amarração marca um ponto onde um mergulhador pode subir directamente para a superfície, mesmo em caso de total perda de ar. Assim que se entra na gruta faz-se uma nova amarração (“secondary tie-off”). Depois foi mostrando como se faziam as amarrações e como se “navegava” ao longo do fio. Faltava ainda falar sobre os sinais de contacto, utilizados em caso de perda de visibilidade, que o Andy demonstrou recorrendo a “cobaias”.

Após as explicações iniciais, era tempo de passar à prática. Aqui foram sobretudo o Tó Zé, o Ricardo, e o Jorge, os protagonistas. Primeiro tiveram de colocar o fio, e depois segui-lo com os olhos fechados Aqui começaram os problemas, que passaram pela natureza do terreno (sobretudo com os espinhos que estavam espalhados pelo caminho)
   
v v
... e pelas acções “maléficas” do Andy...

.

Após esta dura prova, ia-se aproximando a hora de comer algo... Ninguém queria ir mergulhar com fome, pois já se anteviam dificuldades na água... Fomos então para Sesimbra e após uma refeição simples (mas demorada), dirigimo-nos ao porto de abrigo e começámos a montar todo o material. Após algumas afinações, lá fomos entrando para a embarcação da Deepdive, e logo em seguida navegámos até ao local de mergulho (Baía dos Porcos – Sesimbra).

Antes dos exercícios com o fio e o carreto, foi necessário demonstrar algumas técnicas básicas ao Andy (v-drills, s-drills, lançamento de bóia de patamar, etc,). Após esta demonstração, começaram então os exercícios: Os exercisios de treino / formação da GUE são desenvolvidos na forma de simulações. A equipa não têm contacto nem comunicação directa com o instructor. A equipa limita-se a realizar o mergulho dentro dos objectivos e limires previamento definidos, e apenas reaje para antecipar e resolver problemas que o instructor vai colocando (na maior parte dos casos nem se chega a ver o instructor). Tanto o instructor como qualquer um dos membros da equipa pode resolver parar a simulação em qualquer ponto e por qualquer razão, mas o objectivo e chegar ao fim “vivos” apesar dos multiplos problemas e cenários criados pelo instructor. Aqui se calhar a palavra não é tanto criados pelo instructor, mas mais criados pela propria equipa depois de uma pequena faisca dada pelo instructor. A seguir relatamos brevemente os 3 mergulhos de treino realizados.

Mergulho-1

Equipa : JN (1), PN (2), RC (3)
Dados : Prof: 5 m, 15 min, EAN32,
Visibilidade: 10 m,
Temperatura da água: 20 ºC.
Tivemos "alguma" :) dificuldade em encontrar um ponto para fixar a amarração principal ("primary tie"). É importante sublinhar que a rocha também não ajudou (estava coberta de algas)!. Logo aqui, aprendemos uma lição: no início ainda estávamos à procura num local coberto de algas, que felizmente depois abandonamos, porque teria sido ainda mais difícil navegar sem visibilidade por entre a "floresta" de algas e weeds. Mal conseguimos a amarração, e não tendo ainda encontrado o sítio para o “secondary tie-off”, estando o Jorge a uns 10 m do ponto de partida, quando o instrutor me sinaliza que estou sem ar. Faço sinal ao Pedro, na minha frente, e iniciámos a partilha de ar. Quando temos tudo sobre controlo, já o Jorge se apercebeu do que se tinha passado e está ao nosso lado, pronto para ajudar. Nesse momento o Jorge fica sem máscara. Agora tínhamos de tomar decisões e de comunicar entre nós a sequência correcta para sair da “gruta” … Quem vai à frente e atrás ? E como é que vamos comunicar isto ao Jorge que não consegue ver ?

(778k)
v

 

Mergulho-2

Equipa : RC (1), PN (2), JN (3)
Dados : Prof: 5 m, 15 min, EAN32,
Visibilidade: 10 m,
Temperatura da água: 20 ºC.
Neste mergulho utilizamos o mesmo “primary tie” para poupar tempo Seguimos na sequência determinada, e a uns 15 m da partida, fico sem máscara (com o carreto na mão). Não tenho sitio à mão para fixar a linha, por isso aperto o carreto e espeto-o na areia o mais possível, e sigo a linha até ao Pedro, para lhe dizer que estou sem máscara. O Pedro também já não tinha máscara e por aí percebi que o Jorge também devia estar sem máscara (“Lights out”). O fio solto (o carreto não estava correctamente fixo), e uma ajuda do Andy foram suficientes para nos enrolarmos completamente no fio. Durante um bocado, ali ficámos os 3, sem que ninguém tomasse qualquer iniciativa. Visto que íamos "morrer" ali os 3, as máscaras foram devolvidas, mas mesmo com elas, a equipa não conseguiu resolver rapidamente o problema – faltou alguém tomar controlo da situação e começar por uma ponta até desenrolar todos os membros da equipa. Onde estava o capitão da equipa? O que é que devia ter feito a equipa quando não se conseguiu desenrolar da linha?

(1,35M)
v

 

Mergulho-3

Equipa : PN (1), RC (2), JN (3)
Dados : Prof: 5 m, 15 min, EAN32,
Visibilidade: 10 m,
Temperatura da água: 20 ºC. Este terceiro mergulho tinha o objectivo simples de ir recolher o carreto. O Pedro à frente entusiasma-se e distancia-se em demasia dos restantes companheiros. O Andy (que não perde uma oportunidade), pede para eu o Jorge pararmos. Alguns segundos depois, vemos o Pedro a aproximar-se a toda a velocidade sem o regulador na boca, a fazer o sinal de falta de ar. Iniciámos a partilha e decidimos abortar ali o mergulho. Antes da subida, o Jorge fica sem máscara, e temos de ser eu e o Pedro a comunicar-lhe as instruções para a subida (subir, parar, descer, etc.). À superfície, muitos risos (de quem não participou directamente nos exercícios), e algumas caras mais desanimadas... Depois de uma rápida viagem de regresso ao porto, desequipámo-nos e voltámos às instalações da Deepdive para visionar o nosso desempenho (graças às filmagens do Rui). Permitiu descobrir as áreas onde é preciso investir mais tempo de treino

(1,58M)
v

 

Mapa | Creditos | Contactos | Informação Legal | Novidades | ©2006-2011 ENTRADA